Acne: drama de adolescentes e adultos
A acne, conhecida pelos leigos como “espinhas”, é uma das afecções mais frequentes no consultório do dermatologista, em adolescentes e adultos. Surge na grande maioria dos jovens de ambos os sexos, podendo ser mínima ou de grande intensidade, gerando nesses casos cicatrizes inestéticas e problemas emocionais graves. É uma doença com fator genético importante, sendo que quando mãe e pai têm ou tiveram acne, a possibilidade do filho também apresentar quadro é 50%, sendo a gravidade variável.
A acne surge em áreas com glândulas sebáceas hipertrofiadas, geralmente em face e região anteroposterior do tórax. Essas glândulas sofrem ação dos hormônios andrógenos, que provocam uma resposta de hipersecreção sebácea; esses hormônios são mais atuantes na puberdade, mas também podem estar aumentados em algumas síndromes no adulto, sendo a mais comum a SAHA (Seborreia – Acne – Hirsutismo – Alopecia), ou seja, aquela cujo quadro envolve, além da acne, ganho de peso, aumento de pêlos e queda de cabelo, geralmente relacionada com ovários policísticos em mulheres.
Outro fator relacionado à patogênese da acne é a ação de bactérias, sendo a mais importante o Propionibacterium acnes, que induz o processo inflamatório no folículo. Fatores emocionais e tensão pré-menstrual também estão relacionados ao agravamento da acne. Uma dúvida frequente no consultório diz respeito à influência de certos alimentos (como chocolate, frituras) na evolução da acne: apesar de ser uma relação pouco observada, é consistente para alguns pacientes e deve ser respeitada.
De acordo com os tipos e números de lesões a acne pode ser classificada em vários graus:
Acne não inflamatória
- Acne comedônica – Acne Grau I
Caracteriza-se pela presença de comedões, (cravos), algumas pápulas (“bolinhas”) e raras pústulas.
Acne inflamatória
- Acne pápulo – pustulosa – Acne Grau II
Caracteriza-se pela presença de seborreia, comedões abertos (cravos pretos), pápulas e pústulas, com inflamação de intensidade leve até intensa.
- Acne nódulo – cística – Acne Grau III
Além de apresentar as características da acne grau II com grande inflamação, apresenta também os chamados nódulos furunculóides, que são “cistos” que drenam queratina e pus.
- Acne conglobata – Acne Grau IV
Trata-se de forma grave da acne, com as características anteriores, além de numerosos a grandes nódulos purulentos, formando abcessos, fístulas e canais, que dão origem a lesões de quelóide. É mais freqüente em homens e geralmente acomete rosto, pescoço e tronco, podendo atingir até a região glútea.
- Acne fulminans – Acne Grau V
Quadro raro em que, além das lesões de acne grau IV, o paciente apresenta também sintomas gerais, como febre, dores articulares e necrose/hemorragia nas lesões de pele. Requer geralmente internação hospitalar.
Vale lembrar que ainda existem as chamadas “Acnes Induzidas” que têm inúmeras causas envolvidas: acne por cosméticos, (geralmente inapropriados para seu tipo de pele), acne por medicamentos tópicos (“de passar”), acne por fricção (uso de chapéu ou capacete, por exemplo), acne ocupacional (trabalho com óleos e graxa) e acne por medicamentos (corticóides, anticoncepcionais, vitaminas B1, B6 e B12, anticonvulsiantes, lítio, ciclosporina, etc). Outra entidade é a acne infantil, que acontece principalmente em recém nascidos pelos hormônios andrógenos que passam da mãe para o bebê.
Tratamento
O primeiro passo no tratamento da acne é estabelecer se o caso em questão pode responder somente a medicações tópicas (“de passar”), como nos casos de acne graus I e II, ou se são necessárias medicações sistêmicas (“de tomar”) para a resolução do caso. Nos casos de acne graus III, IV e V são fundamentais as medicações por boca e de início mais precoce possível, a fim de evitar ou amenizar as seqüelas (cicatrizes e quelóides); muitas vezes essas medicações são usadas na acne grau II resistente ao tratamento tópico.
Em relação aos medicamentos tópicos, os mais utilizados são: o peróxido de benzoíla, os antibióticos (eritromicina, clindamicina), o ácido retinóico (tretinoína), o adapaleno, a isotretinoína, a nicotinamida e o ácido azelaico. Essas substâncias existem em produtos industriais (“prontos”), e o seu dermatologista é capaz de prescrever manipulações que envolvem geralmente uma associação dessas substâncias, de acordo com cada caso. A manipulação permite também uso de outras substâncias para controle da oleosidade e da acne, tais como o extrato de bambu, o epicutin, o laricyl, o sebaryl, etc.
Os primeiros medicamentos sistêmicos utilizados foram os antibióticos principalmente as tetraciclinas e similares (minociclina, doxiciclina, limeciclina) e a eritromicina. Ainda hoje são amplamente prescritos, com bons resultados em muitos pacientes.
A grande revolução no tratamento da acne
Em 1979, foi introduzido o tratamento com a isotretinoína sistêmica, mas somente nos últimos anos que essa substância vem sendo mais amplamente utilizada, constituindo atualmente o melhor tratamento para acne severa ou refratária a outros tratamentos.
Trata-se de um tratamento de duração variável, geralmente de 6 até 10 meses e que requer acompanhamento médico especializado constante. Isso porque antes e durante o tratamento é necessária a realização de exames de sangue, como teste de gravidez, hemograma, dosagem de colesterol, bilirrubinas e enzimas do fígado.
Uma das recomendações mais importantes é a proibição da gravidez durante o tratamento, pois a isotretinoína é uma substância com ação teratogênica, ou seja, pode causar malformações graves no feto, principalmente neurológicas e cardíacas. Toda mulher em idade fértil deve estar tomando obrigatoriamente um anticoncepcional antes de iniciar o tratamento.
Os efeitos colaterais mais comuns referem-se ao ressecamento que a isotretinoína causa em pele e mucosas (pelo fato de “atrofiar” as glândulas sebáceas): secura de lábios, pele, cabelos, olhos e nariz, que são contornáveis com o uso de hidratantes, lápis labial e lubrificantes. Pode haver uma piora da acne no início do tratamento, que é contornável com o uso de antibióticos (exceto tetraciclina) e às vezes corticosteróides por curto tempo conjuntamente com a isotretinoína.
O que fazer com as marcas e cicatrizes?
Após o término do tratamento com a isotretinoína oral, é necessário esperar pelo menos 6 meses para a realização de qualquer procedimento para a correção de cicatrizes, pois esta substância “afina” muito a pele e retarda a cicatrização. Após esse período ou em paciente que não usaram a isotretinoína oral, é possível se utilizar várias técnicas para correção de cicatrizes, entre elas:
- Peelings, principalmente médios e profundos.
- Dermoabrasão, realizada com lixas ou com bons aparelhos de peeling de cristal.
- Luz Intensa Pulsada ou Laser Não-Ablativo: requer a realização de várias sessões, pois estimula colágeno novo sem retirar a pele superficialmente. Rápida recuperação.
- Laser ablativo (CO 2, Erbium): procedimento fracionado um pouco mais agressivo, faz microperfurações na pele e deixa uma crosta fina por mais ou menos uma semana.
- Subcisão: técnica simples, realizada em consultório, que visa romper as traves fibrosas que tracionam a cicatriz para baixo. Excelentes resultados.
- Preenchimento: técnica usada para atenuar cicatrizes deprimidas.
- Infiltração de corticóides: injeção usada para diminuir cistos remanescentes ou quelóides.
A acne deve ser encarada como uma doença de pele que tem cura e, mesmo que tenha deixado marcas, o dermatologista pode ajudar bastante.